pub-9363386660177184 Pensando as Escrituras

 

Nesta semana, me enviaram uma aula sobre Escatologia em que o professor se propôs a refutar a abordagem preterista das profecias bíblicas. A pessoa que me enviou o vídeo, me desafiou a refutar a “irrefutável” aula contra o Preterismo. Além de ser dispensacionalista fanática, a pessoa que me enviou o vídeo é também “inimiga” do Preterismo e do Pós-Milenismo. Inclusive, perdi as contas de quantas vezes essa pessoa proferiu críticas injustas e ofensivas contra mim. Conheço essa pessoa há muitos anos, mas ameacei bloqueá-la de minhas redes sociais, caso ela continuasse com essa postura indevida. Espero que ela tenha entendido o recado.

Bem, a aula tem pouco mais de uma hora de duração. Embora o professor não tenha dito a posição escatológica que ele defende, parece-me que ele é um pré-milenista histórico. No início da aula, ele cita passagens como Mateus 24.29-31 e Apocalipse 1.7, afirmando a literalidade desses textos. Segundo ele, os verbos “aparecer” e “ver” são literais. Além disso, quando o texto diz que o Filho do Homem virá com poder e grande glória, isso indica um evento visível aos olhos, visto que “glória” aponta para um “brilho” diante dos olhos físicos.

Mais adiante, o professor explica o significado da palavra “geração” de Mateus 24 e Marcos 13. De acordo com ele, essa é a geração que vai presenciar a abominação da desolação. Portanto, não se trata da geração que estava presente em Jerusalém naqueles dias. Em acréscimo a isso, ele diz que a “Vinda de Cristo” e o “Arrebatamento” não aconteceram naquela época, como se o texto bíblico estivesse profetizando esses eventos.

Com relação ao Anticristo, o professor critica a visão preterista de Daniel 9. O Preterismo não crê que o texto bíblico esteja falando do Anticristo, mas do próprio Cristo. Ele, então, tenta mostrar que o texto se refere ao Anticristo, sim. Além disso, esse Anticristo supostamente mencionado por Daniel não apareceu no cenário da história antes do ano 70 DC. Ao invés disso, trata-se de um personagem futuro que surgirá antes do fim do mundo.

Para fundamentar essa posição, o professor cita alguns pais da igreja, como, por exemplo, Irineu (130-200), que afirmou que o Anticristo “deve vir”. Dessa forma, o professor conclui que o Anticristo ainda não veio só porque um pai da igreja afirmou que o Anticristo “deve vir”. Ele apoia a sua visão futurista citando um autor futurista, como se isso fosse prova irrefutável de que o Preterismo está errado.

Em continuidade à aula, o professor cita Mateus 16.28: Alguns há, dos que aqui estão, que não provarão a morte até que vejam vir o Filho do homem no seu reino. Ele, então, indica outro vídeo em que esse versículo é explicado sob o ponto de vista futurista. Confesso que não interrompi a aula para assistir o vídeo. Por isso, deixarei esse ponto em aberto para uma futura consideração. Na sequência, outro texto é citado: Mateus 26.62-64. Jesus disse ao sumo sacerdote que vereis em breve o Filho do homem assentado à direita do Poder, e vindo sobre as nuvens do céu. Segundo o professor, o texto apenas diz que o sumo sacerdote “veria” o Senhor, mas não diz que ele veria com os olhos CARNAIS.

Na sequência, o professor passa a falar sobre o reinado milenar de Cristo. Como futurista, ele defende que o Reino de Cristo ainda não chegou. Como de costume, ele cita vários pais da igreja que eram pré-milenistas. Ele também afirma que o Amilenismo e o Pós-Milenismo não tinham adeptos durante esse período. Na verdade, essas vertentes ganharam adeptos somente a partir do 4º século por causa de uma “mutação doutrinária”, isto é, um tipo de “contaminação” negativa no pensamento doutrinário. Aqui, ele até cita negativamente o historiador Eusébio de Cesareia.

Para apoiar o futuro reino milenar de Cristo, o professor mescla várias passagens de Apocalipse. Por exemplo, segundo ele, Apocalipse 2.26-27 ensina que Jesus dará aos crentes poder sobre as nações, e isso durante o Milênio. Além disso, Apocalipse 3.21 e 5.10 utiliza uma linguagem própria de um reinado terrestre. O Senhor nos fez “reis”, nos assentaremos com Cristo em Seu trono e reinaremos sobre a Terra.

Mais adiante, o professor argumenta que o Apocalipse trata de profecias ainda futuras. João fala de coisas que hão de acontecer. Se as coisas ainda acontecerão, isso significa que elas ainda não aconteceram. Em seguida, o professor oferece uma explicação muito superficial acerca da expressão “em breve”. Ele afirma que esse é o ponto de vista de Deus, e não o ponto de vista humano. Para Deus, a profecia será “em breve”, pois Deus olha para o tempo de um modo totalmente diferente. Ele encerra o argumento aí e, então, comenta sobre a besta de Apocalipse 13. Mas ele também não explica a identidade da besta. Ele apenas diz: Isso aconteceu? É claro que não!”.

A seguir, o professor defende a tese de que Satanás ainda será preso, o que acontecerá, segundo o pré-milenismo, no início do reinado milenar de Cristo. Seria absurdo pensar que Satanás foi preso no século I (como defende o Preterismo). Afinal, Satanás impediu Paulo de visitar os irmãos de Tessalônica (1Ts 2.18), e o mesmo Paulo disse que não podemos ignorar as armadilhas do inimigo (2Co 2.11). Satanás está solto e muito ativo no mundo.

Para encerrar a aula, o professor aborda a datação do livro de Apocalipse. Obviamente, ele defende uma data tardia para a composição de Apocalipse (90-97 DC). Ele afirma que, se o livro de Apocalipse se cumpriu no ano 70, Deus deveria ter revelado as profecias antes do ano 70, e não na década de 90. Uma das “provas” de que o Apocalipse foi escrito depois do ano 70 é a menção de uma Nova Jerusalém. Segundo ele, a menção da Nova Jerusalém nos mostra que a antiga Jerusalém já tinha sido destruída. Após esse resumo, vamos considerar os argumentos.

Como eu já abordei todos esses argumentos futuristas em vídeos e textos que estão disponíveis no YouTube e no Instagram, eu vou comentar brevemente sobre os argumentos da aula. Primeiramente, Jesus disse que todos os sinais que Ele havia acabado de mencionar ocorreriam naquela geração (Mt 24.34). Logo, temos aqui a chave para interpretar os versículos precedentes. Assim, Mateus 24.29-31 se cumpriu no século I. O verbo "ver", em várias passagens, é uma figura de linguagem que significa "entender", enfatizando a compreensão espiritual (Jo 12.39-40). A Bíblia fala dos "cegos" espirituais e daqueles que tiveram os seus olhos "abertos" espiritualmente para compreender o evangelho da graça (At 26.17-18).

Quanto à palavra "geração", o seu significado é: "a multidão inteira de homens vivendo ao mesmo tempo". Junto com o pronome demonstrativo "esta", Jesus estava se referindo à audiência que estava presente naquele momento ouvindo o Seu discurso profético. Se o alvo fosse alguma geração futura, o Senhor não teria usado a palavra grega "genea". Em relação ao Anticristo, a Bíblia mostra que se trata de um movimento doutrinário herético que nega a encarnação de Cristo; especificamente o Gnosticismo do século I. O Anticristo não é um líder mundial de carne e osso. Não é o homem da iniquidade. Não é a besta. E não é o abominável da desolação. Enfim, não se trata de uma pessoa, embora, é claro, os falsos mestres sejam chamados de "Anticristos" (no plural).

Além do mais, citar um teólogo importante não garante a irrefutabilidade de uma teoria. Quem disse que os pais da igreja sempre acertaram? E que sentido faz citar um futurista para defender o futurismo? Esse argumento não se sustenta, pois, de fato, as profecias eram futuras, mas eram futuras para os habitantes do século I que viveram na iminência dos acontecimentos. Nós, do século XXI, estamos situados APÓS o cumprimento das profecias. Portanto, as profecias se tornaram passado para nós. Não estamos mais no século I.

Em relação ao Milênio, será mesmo que esse período ainda não chegou? Cristo ainda reinará ou Ele já é o Rei soberano de toda a Terra? A expulsão de demônios, por exemplo, foi uma evidência de que Jesus havia trazido o Reino de Deus à Terra (Lc 11.20). Já estamos no Milênio. Cristo é o Rei que reina a partir da destra do Pai nos céus. E somos a geração eleita, designada para a proclamação das virtudes do Rei (1Pe 2.9). Quanto ao "tempo de Deus" na profecia, é evidente que Deus olha para o tempo de maneira diferente. Deus não está limitado ao tempo cronológico, preso a um calendário. Todavia, Deus criou o tempo cronológico e inseriu o Universo e as pessoas dentro desse tempo. Ao revelar as profecias a João, Deus utilizou linguagem humana para que não ficasse dúvidas quanto ao significado da profecia. Aliás, o próprio termo "Apocalipse" significa "Revelação". O Senhor revelou para "mostrar" as coisas que em breve deveriam acontecer (Ap 1.1). Sendo assim, a expressão "em breve", cujo significado é "depressa", indica que os eventos aconteceriam após pouco tempo de espera. Não levaria milhares de anos para acontecer. É por esse motivo que João não deveria selar o livro profético (Ap 22.10).

E quanto à Satanás? Ele está solto ou preso? O professor não se atentou para o propósito da prisão de Satanás: "para não enganar as nações" (Ap 20.3). Isso quer dizer que Satanás não poderá enganar as nações durante o atual período do Milênio. Enquanto isso, o Pai está, progressivamente, entregando as nações como herança para o Seu Filho. Satanás não pode impedir a conversão das nações da Terra. Jamais afirmamos que Satanás não está mais atuando no mundo. Ele é o pai da mentira e continua disseminando tentações, heresias e toda sorte de males. Todavia, ele não é mais o "deus deste século", como o era antes da obra perfeita de Cristo na cruz. Hoje, é o Senhor Jesus quem tem toda autoridade no céu e na Terra (Mt 28.18).

Finalmente, o livro de Apocalipse foi escrito antes de 70 DC. A Nova Jerusalém não é prova de que a Velha Jerusalém tinha sido destruída. Ainda não tinha. Ora, na visão profética, João recebeu a ordem de medir o santuário, o altar e os adoradores (Ap 11.1), o que mostra que o Templo em Jerusalém ainda estava em pleno funcionamento. No entanto, a Jerusalém terrena em breve seria pisada pelos gentios por 42 meses (Ap 11.2). A Nova Jerusalém é uma figura da Nova Aliança que estava sendo trazida aos homens. É uma figura do Evangelho de Jesus. A Nova Jerusalém estava substituindo a Velha Jerusalém, isto é, a Antiga Aliança. Quando João recebeu a visão, esse fato ainda não tinha acontecido. Agora, porém, já aconteceu.

Para encerrar esse texto, eu quero ressaltar um ponto positivo da aula. O professor explicou que há dois tipos de Preterismo: o Parcial e o Completo. Muitos não explicam essa distinção e simplesmente colocam ambos no mesmo pacote "herético". Além disso, também destaco, positivamente, as refutações que o professor fez contra o Preterismo Completo. Por exemplo, Paulo repreendeu o Preterismo Completo de Himeneu e Fileto (2Tm 2.17-18). E quando Lucas disse que "esses dias serão de vingança, para que se cumpram TODAS AS COISAS que estão escritas" (Lc 21.22), o professor disse muito bem que a profecia se refere a todo o conteúdo que diz respeito à Queda de Jerusalém, e não a todo o conteúdo profético do início ao fim do mundo.

Espero que você tenha gostado dessas breves e objetivas considerações. Para um estudo mais detalhado sobre os temas mencionados nesse texto, eu te encorajo a acessar o meu perfil no Instagram ou o meu canal no Youtube (Pensando as Escrituras). Você encontrará vários conteúdos sobre Escatologia Bíblica, em geral, e sobre o Preterismo Parcial e Pós-Milenismo, em particular.

 

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Fabrício de Marque

 

A expressão "consumação dos séculos" aparece no Novo Testamento e se refere ao fim de uma era ou de um período específico. Diz o autor de Hebreus: “[...] Mas agora na consumação dos séculos uma vez [Cristo] se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo” (Hb 9.26).

A Primeira Vinda de Jesus ao mundo marcou o fim da era judaica, isto é, da Antiga Aliança. O encerramento dessa era se deu, de maneira definitiva, quando a cidade de Jerusalém e o Templo foram destruídos pelos romanos no ano 70 DC. Esse fato histórico representa o cumprimento das profecias escatológicas e a transição para uma nova fase da história da humanidade.

A morte e ressurreição de Cristo foram eventos históricos cruciais que trouxeram significado e cumprimento à história redentora. O apóstolo Paulo também compartilhou esse entendimento com os coríntios, ao afirmar que a época deles (o primeiro século) foi caracterizada pela “consumação dos séculos” ou “fim dos tempos”: “Tudo isso lhes aconteceu como exemplo e foi escrito como advertência para nós, sobre quem o fim dos tempos já chegou” (1Co 10.11).

O apóstolo Pedro reforçou essa ideia em suas epístolas. Ele afirmou aos seus leitores que eles foram resgatados pelo precioso sangue de Jesus, que foi manifestado “no fim dos tempos”: “Mas fostes resgatados pelo precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo, conhecido já antes da fundação do mundo, mas manifestado no fim dos tempos em vosso favor” (1Pe 1.19-20).

Tudo isso mostra como o plano de Deus estava se desenrolando e os acontecimentos do primeiro século apontavam para um momento de mudança radical na história. Entretanto, além do fim da era judaica, a Bíblia também fala sobre o fim de outra “era”: a “era” do pecado e de suas consequências.

Essa “era” chegará ao fim no Dia da ressurreição final de todos os homens. A consumação dos séculos culminará em uma transformação completa dos nossos corpos. O pecado e a morte não mais existirão. Uma nova e superior realidade será introduzida para sempre: “[...] também gememos em nosso íntimo, aguardando ansiosamente nossa adoção, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.23).

Assim, quando Jesus disse aos discípulos que estaria com eles “todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28.20), Ele estava se referindo, primeiramente, ao fim da era judaica. No entanto, em um segundo plano, Ele estava falando sobre estar com todos aqueles que creriam nEle no futuro, até o Dia da Ressurreição Final.

 

Fabrício A. de Marque

 

No Sermão Escatológico, Jesus disse: “E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim” (Mt 24.14). Se você já ouviu uma pregação futurista dessa passagem bíblica, então é provável que o pregador tenha usado esse texto para incentivar os cristãos a pregarem o Evangelho pelo mundo, na esperança de que Jesus volte logo. No entanto, eu quero te apresentar uma abordagem que julgo ser mais coerente para compreender essa passagem profética. Inicialmente, note que Jesus afirmou que todos os eventos que Ele havia mencionado ocorreriam naquela geração do século primeiro (Mt 24.34).

Se levarmos as palavras de Jesus ao pé da letra, devemos entender como esse versículo se cumpriu naquela época. Uma abordagem séria das Escrituras requer a aplicação de princípios básicos de interpretação bíblica. Um desses princípios afirma que devemos considerar outras passagens bíblicas sobre o mesmo assunto antes de tirarmos conclusões sobre o significado de um texto específico. Dessa forma, permitimos que a Bíblia seja a sua própria intérprete. Isso, certamente, diminuirá as possibilidades de interpretações equivocadas.

Sendo assim, para compreendermos Mateus 24.14, devemos examinar as outras passagens bíblicas que falam sobre a pregação do Evangelho em todo o mundo. Depois de uma rápida pesquisa, descobrimos que há cinco passagens que abordam esse tema. Todas elas mostram como o Evangelho foi proclamado a todas as nações durante a geração dos apóstolos. Veja o que está escrito em Romanos 1.8: “Primeiramente, agradeço ao meu Deus por meio de Jesus Cristo, a respeito de todos vocês, pois a fé que vocês têm está sendo anunciada em todo o mundo”. Paulo diz que a fé dos irmãos estava sendo anunciada em todo o mundo enquanto ele ainda estava vivo. Essa ideia é reforçada mais adiante na mesma carta: “No entanto, pergunto: Não ouviram? Certamente, sim! A voz deles ecoou por toda a terra, e suas palavras foram ouvidas até os confins do mundo” (Rm 10.18). O texto é claro: a voz dos pregadores ecoou por toda a terra, alcançando os confins do mundo.

Paulo diz ainda: “[...] de acordo com o evangelho que prego, e a mensagem de Jesus Cristo, que agora é revelada e feita conhecida por meio das Escrituras proféticas, por ordem do Deus eterno, para que todas as nações creiam e obedeçam a ele” (Rm 16.25-26). O evangelho de Cristo estava sendo revelado e feito conhecido por meio das Escrituras proféticas com o propósito de alcançar todas as nações. Em Colossenses 1.5-6 lemos: “[...] a respeito da verdade do evangelho, que chegou até vocês. Assim como em todo o mundo, ele continua dando frutos e crescendo”. O texto revela que o evangelho estava produzindo frutos e crescendo em todo o mundo ainda na geração do apóstolo Paulo.

A quinta passagem é ainda mais clara. Paulo diz: “[...] contanto que permaneçam firmes na fé, estabelecidos e firmes, sem se afastarem da esperança do evangelho que vocês ouviram e que foi proclamado a toda criatura debaixo do céu, do qual eu, Paulo, me tornei ministro” (Cl 1.23). Paulo afirma que o evangelho foi proclamado a toda criatura debaixo do céu. Isso não é incrível? Diante disso, é natural surgirem questionamentos sobre o verdadeiro significado das expressões “em todo o mundo”, “confins do mundo”, “todas as nações” e “a toda criatura debaixo do céu”. Essas expressões se referem ao mundo como os discípulos o conheciam naquela época ou elas apontam para cada indivíduo do planeta Terra?

É importante notar que, nessas passagens, duas palavras gregas diferentes são utilizadas e traduzidas como “mundo”. Paulo usa a palavra grega “kosmosσμος) em Romanos 1.8 e em Colossenses 1.6. Essa palavra pode ser traduzida como “mundo” ou “terra”, incluindo, de qualquer forma, o mundo inteiro. A outra palavra grega para “mundo” é “oikoumenē(οκουμνη), que pode ser traduzida como “terra habitada” ou “terra civilizada”. Paulo utiliza essa palavra em Romanos 10.18, quando declara que a voz dos pregadores foi ouvida até os confins do “oikoumenē” (terra habitada). Jesus utilizou essa mesma palavra grega no Sermão Escatológico!

O conceito desse termo aponta para a expansão do evangelho dentro do mundo conhecido na época, especificamente o Império Romano e as regiões vizinhas. Isso quer dizer que tanto Jesus quanto Paulo não estavam falando do planeta Terra, abrangendo cada indivíduo da humanidade. Apesar disso, é importante ressaltar que, embora as palavras de Jesus e de Paulo tiveram um contexto geográfico limitado à sua época, o alcance do evangelho continuou a se expandir gradualmente além dessas fronteiras nos séculos seguintes. À medida que o cristianismo se desenvolveu e se espalhou, a mensagem do evangelho chegou a novas terras e culturas.

Hoje, o cristianismo é uma das maiores religiões do mundo, com seguidores em todos os continentes, demonstrando a amplitude alcançada pela mensagem do evangelho ao longo dos tempos. Portanto, embora o alcance global do evangelho seja inegável, as palavras de Jesus em Mateus 24.14 não se refere ao planeta Terra como um todo. Considerando o contexto histórico e a audiência original de Jesus, é evidente que Ele estava se referindo à pregação do evangelho nas regiões habitadas e alcançáveis pelos discípulos naquela época.

 

Fabrício A. de Marque

 

A Bíblia não ensina que o arrebatamento dos crentes será secreto ou que ocorrerá depois de um longo período de tempo em relação ao fim da presente era. Diante disso, perguntamos: quando exatamente os santos serão arrebatados da Terra para encontrar o Senhor? Quando os crentes serão levados “nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares” e estar com Ele para sempre (1Ts 4.17)? Quando ocorrerá a ressurreição dos mortos? Crentes e incrédulos ressuscitarão juntos? Quando acontecerá o Julgamento Final? Vamos refletir sobre essas questões.

Primeiro, a ressurreição dos crentes ocorrerá no Retorno de Cristo, que marcará o fim da presente era. Cristo afirmou que Ele nos ressuscitará no último dia (Jo 6.39-40, 44, 54). Além disso, tanto os crentes quanto os incrédulos coexistirão aqui na Terra até o “dia da colheita”, que é o dia do julgamento de Deus sobre aqueles que rejeitaram a Sua verdade (Mt 13.24-30). Isso quer dizer que os redimidos do Senhor e os ímpios não serão separados até a consumação dos séculos (Mt 13.47-50).

A ressurreição dos santos deve ocorrer simultaneamente à ressurreição dos ímpios, uma imediatamente após a outra. Quando os crentes forem ressuscitados para a vida eterna, todos os túmulos serão abertos, incluindo o túmulo dos ímpios que serão ressuscitados para o julgamento (Jo 5.26-29). Portanto, não haverá um intervalo temporal entre o arrebatamento dos santos, a ressurreição dos mortos em Cristo, a ressurreição e o julgamento dos ímpios, e o fim da era atual. Tudo acontecerá no mesmo dia.

Em segundo lugar, a vinda do Senhor mencionada em 1Tessalonicenses 4.16 também é chamada de “o dia do nosso Senhor Jesus Cristo”, quando os crentes serão encontrados irrepreensíveis. Esse dia coincide com o fim da era atual (1Co 1.7-8). Além disso, a vinda do Senhor trará a glorificação dos santos. Paulo também associa o Retorno de Cristo e a glorificação dos santos em 2Tessalonicenses 1.7-10, deixando claro que esses eventos serão acompanhados pelo julgamento dos ímpios. Isso é confirmado em outras passagens, onde a Bíblia declara que, quando Cristo estabelecer o Seu tribunal de julgamento eterno, toda a humanidade será julgada, incluindo os redimidos e os réprobos (Mt 25.31-34, 41, 46).

Assim, com base nas Escrituras, podemos concluir que o arrebatamento não acontecerá antes do último dia da história, não deixará o mundo dos ímpios para trás e não será separado da ressurreição e do julgamento dos ímpios. O conceito de um arrebatamento pré-tribulacional, que ocorrerá 7 anos (ou 3 anos e meio) antes do Retorno do Senhor, é contrário ao ensinamento da Bíblia.

Antes da ressurreição dos santos, que representa a vitória sobre a morte (o nosso último inimigo), Cristo reinará até que todos os inimigos estejam subjugados a Ele (1Co 15.25-26). Os dispensacionalistas não reconhecem que, antes do glorioso Retorno de Cristo, os reinos deste mundo se tornarão o reino do nosso Senhor e de Seu Cristo (Ap 11.15).

Como cristãos, a nossa perspectiva sobre a história e a nossa esperança não podem depender de uma visão humanista da política ou de um arrebatamento secreto. Devemos abraçar uma perspectiva baseada na verdade bíblica, compreendendo que o arrebatamento dos santos ocorrerá juntamente com a Ressurreição, o Retorno glorioso de Cristo e o Julgamento dos ímpios.

A nossa esperança está na vitória final de Cristo sobre o mal e na renovação completa de todas as coisas. Para isso, é crucial estudar as Escrituras e compreender esses eventos para vivermos de acordo com a vontade de Deus e experimentarmos plenamente a esperança que Ele nos oferece.

 

Fabrício A. de Marque

 

Tanto os futuristas quanto os preteristas parciais acreditam no arrebatamento e na Segunda Vinda de Jesus, mas eles têm diferentes perspectivas sobre como e quando esses eventos ocorrerão. Neste breve texto, explicarei apenas o entendimento futurista desses acontecimentos. Primeiramente, é importante dizer que a palavra “arrebatamento” não é encontrada na Bíblia. Ela é uma tradução do termo latino “rapio” e do termo grego “harpazō(ρπζω), que significa “ser tomado”, “arrebatado”, “recolhido” ou “ser levado à força”. Essa última palavra transmite melhor o sentido pretendido pelos escritores bíblicos.

A visão futurista ensina o arrebatamento da seguinte maneira: Jesus voltará em breve e aparecerá secretamente no céu, visível apenas aos crentes. Nesse momento, todos os crentes desaparecerão da Terra, ou seja, eles serão “arrebatados” para encontrar o Senhor nos ares. Como resultado do arrebatamento, carros colidirão nas ruas quando os motoristas cristãos sumirem e pilhas de roupas serão deixadas para trás. Da mesma forma, os corpos dos crentes mortos desaparecerão dos túmulos e serão levados para o céu.

Os crentes serão levados para o céu por sete anos, durante os quais eles participarão do banquete das bodas do Cordeiro, que simboliza a união entre Cristo e Sua Noiva. Enquanto isso acontece no céu, o Anticristo governará a Terra e a maioria das pessoas o seguirá. Durante esse período, ocorrerá a Grande Tribulação, conforme descrito nos capítulos 4 a 18 do Livro do Apocalipse. Ali é dito que Deus derramará a Sua ira e destruirá grande parte da Terra, incluindo um terço da humanidade.

De acordo com a visão futurista, o arrebatamento é considerado a “parte 1” da Segunda Vinda de Jesus. Porém, 7 anos depois, no final do banquete celestial e da Grande Tribulação na Terra, ocorrerá a “parte 2” da Segunda Vinda. Nessa ocasião, Jesus voltará novamente, mas dessa vez de forma visível para todos, não mais em segredo. Ele virá para julgar o mundo e derrotar os Seus inimigos na batalha do Armagedom. É importante observar que a visão futurista do arrebatamento como um evento separado da Segunda Vinda só se tornou amplamente conhecida no século XIX. Antes disso, havia poucas referências históricas a essa doutrina.

Foi somente quando o líder religioso britânico John Nelson Darby apresentou essa visão publicamente em uma Conferência na Irlanda, entre 1830 e 1833, que ela ganhou destaque. Darby afirmou ter recebido essa revelação por volta de 1827. Desde então, a visão futurista se desenvolveu e se tornou popular, especialmente após ser incorporada nas notas de rodapé da Bíblia de Referência Scofield, publicada pela primeira vez em 1909.

A visão de Darby e Scofield se tornou a perspectiva predominante entre os futuristas, influenciando a compreensão moderna desses eventos. Dentro do período de 7 anos, que os futuristas chamam de “Septuagésima Semana de Daniel”, os cristãos acreditam que estarão no céu. Durante esse tempo, Deus concederá um período de favor de 7 anos ao povo judeu, durante o qual eles terão uma posição proeminente nos eventos mundiais e no governo global.

No meio desses 7 anos, os futuristas afirmam que o anticristo quebrará sua aliança com os judeus, entrará no Templo reconstruído em Jerusalém e declarará ser o próprio Deus. Então, Deus começará a derramar a Sua ira sobre toda a terra. No fim dos 7 anos, ocorrerá a segunda parte da Segunda Vinda, quando Jesus retornará à Terra. Essas visões sobre o arrebatamento, a Segunda Vinda de Cristo e as 70 semanas de Daniel, são interpretações que podem variar entre as escolas de escatologia.

Embora a visão futurista seja amplamente aceita e, talvez, seja a mais conhecida e propagada, é importante reconhecer que outras interpretações, como a visão preterista parcial, também existem. O preterismo parcial, por exemplo, busca entender o significado das profecias dentro do contexto histórico do primeiro século, enriquecendo, assim, a nossa compreensão das Escrituras Sagradas. Encorajo você a estudar essa abordagem.

 

Fabrício A. de Marque

 

O dispensacionalismo é muito popular porque afirma interpretar a Bíblia de forma literal. Um dos principais teólogos dispensacionalistas, Charles C. Ryrie, disse que a interpretação literal é essencial para entendermos as profecias bíblicas. E isso, por sua vez, nos conduz ao dispensacionalismo. Ele apresenta três argumentos a favor dessa abordagem:

1. Argumento filosófico: Ryrie argumenta que, visto que Deus é o Criador da linguagem e deseja transmitir a Sua mensagem aos homens com clareza, então é certo que Ele se comunicaria por meio de uma linguagem literal e normal. Portanto, a interpretação literal é necessária para entender o coração de Deus.

2. Cumprimento literal: Ryrie destaca que as profecias do Antigo Testamento sobre a Primeira Vinda de Cristo foram cumpridas de forma literal no Novo Testamento. Isso, portanto, sugere que a interpretação literal é válida e precisa para o estudo profético.

3. Objetividade: Ryrie afirma que a interpretação literal é necessária para mantermos a objetividade na interpretação da Bíblia. Em outras palavras, quando rejeitamos a interpretação literal, perdemos de vista a clareza e a intenção original do autor sagrado.

Todavia, os próprios dispensacionalistas reconhecem que o “literalismo coerente” é um ideal hermenêutico impossível de ser alcançado. O destacado teólogo John S. Feinberg, chegou a dizer que a abordagem de Ryrie é simplista demais. E os teólogos Craig Blaising e Darrell Bock disseram que o conceito de Ryrie é bastante “ingênuo”. A verdade é que a interpretação literal não leva em consideração o uso de figuras de linguagem na Bíblia, como poesias, metáforas e parábolas.

Olhando rapidamente para os três argumentos de Ryrie, percebemos que o problema com o primeiro argumento é que ele parte de uma premissa preconcebida, ou seja, Ryrie pressupõe que é necessário adotar a interpretação literal antes mesmo de abrir a Escritura. Essa postura impossibilita a interpretação espiritual imediata e ignora a diversidade de gêneros literários presentes na Bíblia.

O segundo argumento também é problemático. A alegação de que todas as profecias do Antigo Testamento sobre Cristo foram cumpridas de forma literal no Novo Testamento não procede. E a razão é simples. Existem exemplos de cumprimentos não literais e o próprio Novo Testamento utiliza interpretações tipológicas e analógicas das profecias.

Um exemplo disso é quando Mateus relaciona um acontecimento do passado com a vida de Jesus. Por exemplo, quando Israel foi chamado para sair do Egito, isso foi visto como uma prefiguração do que aconteceria quando Jesus voltasse da Sua fuga no Egito (Os 11.1; Mt 2.15).

Por fim, o problema com o terceiro argumento é que a interpretação literal não garante necessariamente a ortodoxia. Prova disso são as várias seitas que adotam uma interpretação literal das Escrituras, como as Testemunhas de Jeová que são pré-milenistas. Sejamos honestos em admitir que os próprios dispensacionalistas às vezes fazem interpretações não literais quando convém ao seu sistema escatológico.

O problema está na incoerência do literalismo seletivo. Jesus confrontou o literalismo judaico durante o Seu ministério, demonstrando que a interpretação estritamente literal poderia levar ao erro e à rejeição do Messias.

Portanto, embora o dispensacionalismo defenda a interpretação literal da Bíblia como essencial, essa abordagem apresenta desafios e limitações, porque nem sempre é possível aplicá-la de forma coerente em todos os casos. Defender com unhas e dentes um “literalismo coerente” é uma atitude não apenas ingênua, mas também promove uma falsidade.

 

Fabrício A. de Marque